terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Concentrada e amplificada

Divertem-me os estereótipos e os lugares-comuns. Gosto da maneira estilizada como nos arrumam o mundo. E gosto de ver como, por vezes, estes são oferecidos ao olhar alheio e nos são depois devolvidos de forma amplificada.
Toni Frissell, fotógrafa americana que passou por Portugal em trabalho, em Maio de 1946, trabalhou sob o ponto de vista do turista, passou pelos bairros históricos de Lisboa, pelos cais do Tejo e pelas casas de fado. Por essa observação fez imprimir a sua marca de água. Algo que, à falta de melhor termo, eu descreveria por intensidade.
A imagem que produz duma fadista em actuação é simplesmente fabulosa.  Apresenta-nos um Portugal do Estado Novo, mais real que o real. Com tristeza, a pose torcida e chorada da cantora, a seriedade nos acompanhantes e um pintas no fundo a compor o quadro. E tudo isto com um jarro de vinho e barriga cheia denunciada pelo prato vazio.

Toni Frissell, Fadista numa casa de fados
Lisboa, Maio de 1946
imagem obtida aqui

A fotografia de Frissell apresenta-nos de forma perigosamente concentrada o modo como um certo Portugal de então gostava de se ver ( e de se mostrar).

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