quarta-feira, 15 de julho de 2015

Um planeta esquisito

Plutão sempre foi um planeta esquisito.
Longínquo, descoberto muito tardiamente, foi o planeta X até que uma menina de dez anos,  Venetia Burney, neta de Falconer Madan, um notável de Oxford,  teve a capacidade de o baptizar com o mitológico nome de Plutão, divindade grega que lidava com os mortos e a riqueza.
Durante dezenas de anos foi o nono planeta do nosso sistema solar, até que foi afastado desse panteão e entrou no limbo dos chamados planetas-anões.

Este anão, desqualificado, de órbita excêntrica, afastado,  foi sempre mais imaginado que visto. As suas melhores representações eram não fotografias, mas criações de ilustradores especializados. As fotos do planeta eram pouco mais que a miragem dum míope, dado que nenhuma sonda passara perto para o retratar com pormenor. A agência espacial americana, quando plutão ainda era membro do clube dos planetas, sentiu essa falha como algo a colmatar. Organizou o lançamento da New Horizons em Janeiro de 2006, apenas sete meses antes da  União Astronómica Internacional empurrar a pobre criatura celeste para a segunda divisão.
Fosse a Astronomia uma empresa cotada em bolsa e a missão teria ficado insolvente.

Mas felizmente não o é.
E agora Plutão tem direito a finalmente sorrir para o retrato. 
Ao fim de nove anos, a nave aproximou-se o suficiente para fazer uso da Long Range Reconnaissance Imager, a câmara fotográfica criada de propósito para a missão. As primeira imagens não são ainda as definitivas, já só ontem a sonda atingiu a proximidade máxima, e ainda levará um tempinho para revelar o detalhe.

Mas do que foi divulgado, podemos com certeza dizer o seguinte: Plutão continua esquisito. Citando John Spencer, do Southwest Research Institute do Colorado, uma das entidades envolvidas na missão "as imagens revelam apenas que Plutão é um planeta realmente esquisito. Tem algumas áreas muito escuras, outras extremamente claras, e não sabemos nada sobre o que são ainda".

NASA, Plutão, 2015
Imagem obtida aqui


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segunda-feira, 13 de julho de 2015

A arte de humilhar

Dificilmente se poderá considerar a humilhação como uma ferramenta produtiva da diplomacia. Mas, nem por isso, o seu exercício deixou de ser aplicado nas relações entre povos.

Em 1919, ao fim de seis meses dum armistício que finalmente fez parar a fábrica de morte criada pela primeira guerra mundial, as nações vencedoras (que haviam entrado para o conflito com a mesma inconsciência militarista que reinava no estado-maior alemão) forçam uma Alemanha que não tinha alternativas a um tratado desastroso. A humilhação é consumada em Versailles, na França, mas para muitos esse foi apenas o acto final dum processo que começara numa carruagem de caminho-de-ferro, em Novembro de 1918, em Compiègne, também na França, onde os negociadores alemães tiveram de aceitar tudo o que lhes foi posto sobre a mesa.

Em 1939, a monstruosidade gerada por um tratado impossível trouxe de novo os combates à Europa. A França, um dos anteriores vencedores,  com as suas tropas trucidadas pelo moderno exército alemão, é desta feita submetida à humilhação. Em junho de 1940, os nazis recuperam a carruagem privada do marechal Foch, a tal de Compiègne, e impõem nela os seus termos a um inimigo sem alternativas. Dividem o país, retiram-lhe efectivamente a independência, e impõe-lhe o saque dos recursos.

Depois, a carruagem foi levada para Berlim para ser um monumento da vitória.

Fechava-se o círculo de humilhação e castigo colectivo, terá pensado a liderança alemã.

Nada estaria mais longe da verdade.

Hugo Jaeger,
O dia anterior à assinatura do armistício,
Compiègne, França, 21 de Junho de 1940
imagem obtida aqui

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domingo, 5 de julho de 2015

Na companhia do diabo

A imagem abaixo apresenta-nos um momento pitoresco dum conflito invulgar no interior da segunda guerra mundial, no qual a Finlândia se aliou ao diabo para combater o diabo.
Primeiro invadida pela União soviética em 1939, na chamada Guerra de Inverno, quando esta concordava com a Alemanha de Hitler a divisão da Europa, resistiu sozinha a forças numericamente muito superiores, sem que as forças aliadas concretizassem os apoios que prometiam. Acabou empurrada pelos alemães, e pelas circunstâncias, para um armistício com os invasores, que lhe custaria um décimo do território e que pouco duraria.
Mais tarde, em 1941, quando os nazis romperam o pacto com os soviéticos, os finlandeses fizeram uma aliança pouco convicta com os primeiros, para obter os apoios que precisavam para recuperar os territórios perdidos.
Em 1944, com todo o território finlandês recuperado e com a Alemanha em clara perda, a Finlândia acordou separadamente a paz com Estaline, e entrou em guerra com o aliado de circunstância, forçando as forças alemãs a retirar do seu território para a Noruega.

Autor não identificado,
Vigilância em torre de controle aéreo, 
Finlândia, 1942
imagem obtida aqui

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