quarta-feira, 27 de junho de 2012

Um prémio

MoMA, Nova Iorque
imagem obtida aqui

Uma investigadora portuguesa a trabalhar para o MOMA ( Museum of Modern Art) de Nova Iorque, Ana  Martins, ganhou um prémio interno pelo desenvolvimento de uma metodologia que permite precisar dados específicos de uma tiragem fotográfica, nomeadamente a data. Algo que se revela particularmente útil na análise comparativa do trabalho global do fotógrafo, ou na sua relação com as obras de outros.
Dá gosto ler, vindo de uma instituição que lida de forma particularmente sábia com as suas colecções de fotografia (são em parte acessíveis na internet e, ao contrário do que acontece em alguns exemplos portugueses, não caiu na tentação de mutilar as visualizações com uma marca-de-água), e sabendo-se que a questão das colecções fotográficas, e do conhecimento da técnica, é tratada com alguma displicência e desinteresse aqui no burgo.
A notícia é do Público e pode lê-la aqui.

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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Duas horas e meia

Fred Stein é, muito injustamente, um daqueles casos de um fotógrafo conhecido por uma única fotografia. Dele, que começou a fotografar profissionalmente nos anos trinta, que nos deixou imagens notáveis da Paris de entre guerras e da Nova Iorque dos anos quarenta e cinquenta, que publicou trabalhos na TIME, na LIFE e na NEWSWEEK, conhece-se geralmente apenas o seu retrato de Albert Einstein, de 1946.

Fred Stein, Albert Einstein,1946
imagem obtida aqui



Retratista notável, foi citado num artigo de 1954, no New York Times, afirmando que “ o registo da semelhança e a revelação da personalidade são os dois principais objectivos de um fotógrafo de retrato. Ambos devem ser atingidos num retrato bem-sucedido, dado que o pleno reconhecimento duma pessoa não reside apenas na identidade externa, mas é produzido e tornado convincente por alguns elementos visíveis da individualidade. O fotógrafo tem de estar alerta para a atitude, o gesto e a expressão, e tem de carregar no disparador no momento crítico quando todos estes elementos se combinam para descrever a personalidade interior”.

Abordava os seus retratados de uma maneira muito particular. Quando se lhe apresentava um trabalho de retrato, estudava os feitos e as opiniões do seu futuro modelo. E aquando do momento do retrato, Stein, homem de uma espantosa biografia, um leitor ávido e sistemático, um conversador incurável e uma personagem cheia de assunto, transformava o trabalho em longas tertúlias. Vencia a rigidez e a pose defensiva pela empatia que conseguia despertar no interlocutor e, por não usar equipamento pesado (fotografou sempre com uma pequena Leica ou com uma Rolleiflex), conseguia captar os instantâneos das longas conversas em que se tornavam as suas sessões fotográficas.

Assim aconteceu no caso do famoso retrato de Albert Einstein. Nos contactos preliminares com o secretário do físico, um antigo conhecido dos tempos da faculdade na Alemanha, este avisara-o que apenas conseguira que Einstein lhe disponibilizasse dez minutos no seu escritório. Mas iniciado o serviço, rapidamente o cientista e o fotógrafo encetaram uma longa conversa que, de tempos a tempos, era interrompida pelo secretário. Este tentava manter a agenda planeada e fazer sair Stein. Sem sucesso, dado que repetidas vezes Einstein lhe disse que o fotógrafo ficava mais um pouco. Os dez minutos acabariam ao fim de duas horas e meia e resultariam na fotografia que marcaria, justificadamente ou não, toda uma carreira.

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