sábado, 2 de março de 2013

O lugar do Poder

Em Portugal, um mesmo local simboliza o poder desde o início do século dezasseis - o Terreiro do paço.
De início, assim era de facto porque lá morava o poder. Em 1511, D. Manuel I mudara-se do medieval castelo de Lisboa para um palácio junto ao Tejo.
Com a perda da independência, nos reinados filipinos, o paço sofreu enorme obras e tornou-se um símbolo dum poder distante e estrangeiro. Depois, com a restauração da independência, tornou-se apenas o símbolo dum poder distante.
Finalmente, o terremoto de 1755 destruiu totalmente o palácio real, e em sua substituição foi construída uma praça de traça racionalista, a Praça do comércio. Mas, com a naturalidade das nações velhas, o nome antigo ficou e perdura. Indiferentemente, os lisboetas, e os portugueses em geral, chamam àquele lugar, onde ainda hoje residem alguns ministérios, um e outro nome, sem problemas e sem confusões acerca daquilo a que se referem.

Apesar de a maioria dos ministérios já terem partido para moradas mais modernas, quando o país se irrita e protesta, é para ali que se dirige.

Em tempos de Ditadura, as massas irritadas não se podiam dirigir para tal lugar (em bom rigor, não se podiam dirigir para lugar nenhum). O que não quer dizer que estivesse livre de manifestações. Estas eram porém de natureza diferente, de apoio organizado, de veneração orquestrada ao ditador.Uma das melhores imagens desses tempos, de Horácio Novais, apresenta-nos a figura do ditador de costas, acompanhado de alguns próximos, a assentir paternalmente, sem entusiasmos, da varanda dum dos ministérios à multidão organizada.

Horácio Novais, 
Salazar e manifestação no Terreiro do Paço, sem data
imagem obtida
aqui


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