terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O não-retrato pessoal de Andy Warhol

Henry Cartier-Bresson terá dito que não gostava de retratar actores e actrizes. A relação profissional que têm com a sua própria imagem faz com que a presença de câmaras os transforme numa pose, considerava ele.

Em poucos casos, esta dificuldade de separar a personalidade da imagem, terá sido mais evidente que no do artista plástico Andy Warhol. Este, figura de proa do movimento Pop Art, é um exemplo único de opacidade. Todas as suas aparições públicas eram momentos de demonstração. O homem era a sua imagem. O seu rosto era uma máscara de cera inexpressiva, imagem pura, sem aparente significado.
Dificilmente se poderia contornar este exercício, vislumbrar um pouco da intimidade, da sua verdade, através do rosto.

Richard Avedon, Andy Warhol,
Nova Iorque, 20 de Agosto de 1969
imagem obtida aqui


Uma das formas de garantir anonimato numa fotografia passa por evitar o rosto. É um recurso comum no manual de artíficios dos fotógrafos. Os amadores que tentam o nu, com modelos relutantes à exposição pública, fazem-no. Os fotógrafos mais ambiciosos, quando tentam a abstração partindo dum corpo  individual, também vão por aí.

Curiosamente, um dos olhares fotográficos mais certeiros sobre Andy Warhol serve-se desta abordagem.
Em Agosto de 1969, Richard Avedon fez algumas fotografia com o artista, então recuperado de uma tentativa de assassínio. Pouco mais de um ano antes, Valerie Solanas, uma aspirante a actriz e dramaturga, desequilibrada social e psiquiatricamente, que tentara entrar no círculo próximo de Warhol, e despeitada pela pouca atenção que considerava obter, disparara sobre ele.
Gravemente ferido, fora submetido a uma operação complexa na qual, inclusivamente, o recuperaram de uma paragem cardíaca. Andy warhol sobreviveria, mas do acontecimento ficariam marcas físicas, um torso retalhado por cicatrizes e a necessidade de usar um corpete ortopédico, e marcas psicológicas. Warhol nunca lidara bem com a dor física e o episódio viria a marcá-lo profundamente, acentuando a aversão irracional que tinha por hospitais e médicos. O artista faleceria prematuramente em 1987, na sequência de uma operação dita de rotina à vesicula biliar, que adiara ao ponto de a tornar uma emergência médica.

O tronco sem rosto de Warhol, um não-retrato, que Avedon fotografa no Verão de 1969, acaba por ser uma muito mais fidedigna, e pessoal, imagem dos seus demónios interiores do que os muitos registos da face icónica que oferecia às câmaras

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