segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Uma mascarada

A primeira guerra mundial confirmou algo que a guerra cívil americana já evidenciara: a natureza da guerra alterara-se significativamente com o progresso industrial.
Na guerra da secessão dos Estados Unidos, com a maior cadência de fogo das armas modernas e a insistência em práticas militares arcaicas, como o avanço em linha para as posições inimigas, as taxas de sobrevivência dos combatentes desceram para níveis espantosamente baixos. Na primeira grande guerra, aproximadamente meio século depois, as mentalidades das chefias militares não se modificara de forma assinalável, viviam ainda em quadros mentais muito próximos das guerras napoleónicas. O mundo mudara muito, porém. As armas eram muito mais potentes, mais precisas, e muitas inovações na arte de matar haviam aparecido. Este desenquadramento entre tácticas e armas haveria de ser profundamente desastroso. A matança tornara-se industrial, o morticínio cifrar-se-ia pelos milhões.
Este desenquadramento vivia-se igualmente ao nível da mentalidade das elites. Muita da aristocracia e da burguesia partia para a guerra imbuída de um espírito de galanteria e de panache (em certa medida, sofria de uma espécie de complexo de D. Quixote). Nalguns círculos, como era o caso dos futuristas, louvava-se inclusivamente o poder regenerador, purificador, dessa nova guerra que haveria de ser mecanizada e regular, enfim, moderna. O choque com a realidade acabaria por ser brutal e encheria de sobreviventes com perturbações mentais os hospitais militares.
Os governos envolvidos e os seus exércitos experimentavam novas armas, testavam as sua características e documentavam-nas. A imagem abaixo, proveniente dos National Archives da Grã-Bretanha apresenta-nos um equipamento respiratório, desenvolvido pela secção de combate nas trincheiras do Ministério das Munições, para uso em caso de ataque com gás. A fotografia foi feita obviamente longe da frente de guerra, e parece permanecer nela, pela pouca praticabilidade do aparato e pela postura do modelo, um pouco dessa atitude blasé em relação aos combates. A coisa parece uma pausa num musical cómico de Gilbert e Sullivan. Aos cavalheiros britânicos da era eduardiana era suposto combaterem valentemente, mas não só. Tinham que fazê-lo com compostura e pausa para o chá.


Autor não identificado,
Equipamento respiratório para ataque de gás,
1914-1918
imagem obtida aqui


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