domingo, 31 de janeiro de 2010

Gaivotas na paisagem doméstica

As gaivotas não são animais domésticos, mas são-nos familiares e há uma tolerância mútua que lhes dá algo de felino ou, nalguns aspectos, de canino.
Em miúdo, vi-as, com alguma curiosidade, perto das traineiras e da lota, na baixa-mar. As gaivotas, como os gatos vadios, estavam sempre perto mas não se deixavam tocar. Roubavam peixe, caso se desse a oportunidade, e fugiam rapidamente. Como os gatos, pedinchavam comida em bandos. Perseguiam os barcos numa guincharia irritante, e atiravam-se, lutando umas com as outras, aos restos da amanha atirados à água e ao peixe rejeitado.

Com os cães, partilham a nossa resignação com o resultado dos seus dejectos. Costumava vê-las sobre a casa dos meus pais, a voar em grupos barulhentos, com acrobacias e pequenos voos picados. Pareciam pequenos stukas de penas, que apontavam cagadelas aos lençóis que secavam nos terraços e varandas. O confronto das mulheres, com a roupa antes lavada e limpa, e então com uma mancha escorrida, era semelhante ao de quem verifica o sapato após pisar bosta de cão na rua. Era o mesmo desagrado, por vezes declarado bem alto, mas igualmente acolhido como uma fatalidade natural.

Bombardeiros Felídeos penados


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