domingo, 17 de fevereiro de 2019

Diogo Margarido e o particular contexto da fotografia amadora em Portugal

Diogo Margarido (n. 2 de fevereiro de 1932) é um bom exemplo do particular contexto da fotografia, e da fotografia amadora em especial, no Portugal da segunda metade do século vinte.

Nascido fora de famílias ligadas ao ofício, e num contexto humilde que não lhe permitiu uma formação estética e técnica precoce no exterior, a sua ligação à fotografia não pôde provir das duas formas mais informadas que a realidade portuguesa permitia à época. Acabaria por a ela começar a aceder através do forte associativismo operário da zona do Barreiro, cujas bibliotecas alimentaram um espírito curioso e insatisfeito, com câmara emprestada, e sem acesso a laboratório, dependendo, como quase toda a gente na época, das casas comerciais para revelação e ampliação.

Uma vida profissional intensa ligada à indústria não evitaria uma continuada prática fotográfica, numa aprendizagem esmagadoramente auto-didacta, fundada numa colecção de livros que foi acumulando com entradas nacionais e estrangeiras, e num investimento pessoal em equipamento. Nem impediu igualmente um papel importante no associativismo fotográfico, tendo sido dirigente da APAF – Associação Portuguesa de Arte Fotográfica e tendo promovido aí cursos de iniciação à Fotografia, poupando a muitos o difícil percurso de auto-aprendizagem que teve pessoalmente de percorrer.

Acumulou e construiu ao longo de décadas um organizado arquivo de milhares de negativos e diapositivos, cuja digitalização se encontra em curso, e que nos mostra o Portugal em mudança, às vezes lenta, às vezes acelerada, das décadas de cinquenta até à actualidade. Tendo fotografado longamente, mercê da sua carreira, a indústria e as suas instalações, fotografou igual e demoradamente os territórios do interior e as gentes amarradas a uma ruralidade áspera e difícil. Fê-lo mesmo com assinalável graça e familiaridade. Era aí que estavam as suas raízes.

Impõe-se que a fotografia de Diogo Margarido, em larga medida afastada do conhecimento público, seja apresentada e divulgada com maior destaque e consistência do que aqueles que ocasionais exposições têm permitido.

E esperam-se em breve agradáveis novidades editoriais a esse respeito.


Diogo Margarido,
Castelo de Vide,
Portugal, 1960
imagem cedida por cortesia do autor

Sem comentários:

Enviar um comentário