domingo, 15 de dezembro de 2013

Retrato duma personagem

Praticar o chamado retrato psicológico, um exercício complexo em que se tenta capturar numa fotografia os traços da personalidade do retratado, é algo que frequentemente se revela difícil.
Por vezes, descamba mesmo para o impossível, quando o alvo da lente é alguém que, na sua presença, se transfigura e se transforma numa personagem.

Este defeito, atribuído comummente a secções muito especificas e especializadas, como os actores e os políticos, quase como uma deformação profissional, atinge  situações limite. Situações em que quase se duvida da existência duma verdadeira personalidade atrás da personagem.

Refiro-me a figuras cuja aparição em público implica, ou implicava, sempre uma encenação. Andy Warhol era um desses casos. Outro, sem dúvida, era Salvador Dali.
Ambos tinham uma relação forte com a sua representação fotográfica, ambos forneceram o material visual para alguns dos mais fantásticos retratos do século vinte. Mas, quase sem excepção, o que forneceram não foi um vislumbre do seu pathos ou da sua verdade interior. O que ofereciam à câmara era uma manipulação.

Perante este facto, por vezes a melhor abordagem que um fotógrafo podia ter era hiperbolizar o que o modelo oferecia, tornar evidente essa manipulação.

Alberto Schommer, Salvador Dali, 1973
imagem obtida aqui
E Alberto Schommer, fotógrafo espanhol, sabia-o. Por isso fê-lo tão bem tão bem em 1973.

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