quinta-feira, 11 de março de 2010

O Coleccionador de legendas

Gosto de museus, já aqui disse.
Gosto de os percorrer lentamente. Gosto das colecções, dos espaços , do conceito - um misto de templo e de armazém.
Mas, por vezes, dou por mim a exercer o papel de antropólogo ou biólogo amador. Descubro-me a analisar, e a catalogar, a fauna que os frequenta. Esta fauna, da qual evidentemente faço parte, é relativamente variada.
Há o funcionário esforçado. O segurança entediado. O guia diligentemente pouco informado. Os visitantes desportistas, que tentam bater o record do Guiness para a visita completa ao Louvre no mais curto espaço de tempo. O experimentador de sofás, que se desloca de uma sala para seguinte, apenas para se pousar nos assentos que nelas existem. Os bandos das visitas escolares, que se aborrecem, aspirando o fim do frete para irem a um centro comercial. O  visitante interessado, demorado, que nunca consegue ver tudo no tempo disponível. O especialista, que vai ao museu, não para ver o que está exposto, mas para expor a quem o ouvir o muito que julga saber sobre a exposição.
Uma das minhas categorias preferidas é a do coleccionador de legendas. Trata-se de um tipo muito particular de utilizador. Não é um frequentador forçado, tem curiosidade e desloca-se com alguma morosidade. Diferencia-se do visitante interessado num pormenor: embora percorra todos os objectos, não olha para eles, ou raramente o faz, e sempre de forma breve. Prefere a informação escrita que puseram debaixo, ou ao lado. 
Gosta mais do texto do que da coisa.

Júlio Assis Ribeiro, British Museum, Londres, 2001


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1 comentário:

  1. Ora muito bem! Eu pertenço à classe daqueles que olham demoradamente e raramente olham para as etiquetas! Mas emito ah! em voz alta quando não os consigo conter! Não tenho blogue mas gosto das parvoeiras que os outros escrevem!

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