Rev.Charles Dodgson, Alice Liddell,1859
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Charles Dodgson (verdadeiro nome de Lewis Carroll) descreveu as circunstâncias em que inventou as histórias que viriam a dar origem ao livro. Em 4 de Julho de 1862, durante um passeio de barco com as irmãs Liddell e o seu amigo Robinson Duckworth, iniciou a narrativa das aventuras de uma jovem que se chamava Alice,como a mais viva das três meninas. Depois, por insistência da pequena musa, acabaria por fazer um manuscrito, ilustrado por si próprio, para oferta.
Este manuscrito, depois de algumas alterações, seria transcrito e publicado, e seria um enorme sucesso. Com este livro Charles Dodgson passaria de jovem diácono anglicano, de professor de Matemática num colégio universitário de Oxford, e de fotógrafo reconhecido entre a elite artística britânica, a um popular (e rico) escritor de histórias infantis. E embora mais tarde tenha defendido que a Alice do livro não se baseava em nenhuma criança real, o facto é que objectivamente sabemos que assim não foi.
Perante este facto, e conhecendo-se as fotografias que, na mesma altura, Dodgson tirou a Alice Liddell, gente há ( faça-se um pesquisa na Internet, para confirmar) que se sente algo espantada pela pouca semelhança da criança real e a Alice que quase todos têm na imaginação- a do do filme de animação da Disney. Alguns conseguem ver nisto um exemplo claro de uma conspiração universal para favorecer os louros nórdicos, em detrimento de todos aqueles que não têm um cabelo, e pele, tão claros. Para estes, a Alice da Disney é loura pela mesma razão em que se insiste na iconografia de um Jesus louro, oriunda da pintura flamenga, dos séculos XV a XVII.
Walt Disney, Alice, 1951 |
Ora, a verdadeira razão desta discrepância é certamente muito menos propícia a exaltamentos. Na realidade, a heroína do filme de animação tem como fonte iconográfica provável, não a Alice Liddell, criança de temperamento forte, fotografada por Dodgson , mas a Alice das ilustrações das primeiras edições do livro.
Estas gravuras foram realizadas por John Tenniel, um famoso ilustrador da época vitoriana, a quem Dodgson solicitou a colaboração, visto considerar que as imagens que ele próprio desenhara no manuscrito não estariam a um nível adequado.
John Tenniel, Alice in Wonderland - Drink Me |
Para orientar Tenniel, fez-lhe chegar uma fotografia, não de Alice Liddell, mas de uma outra criança por si retratada, que teria um ar mais doce e empático - Mary Hilton Badcock. Para John Tenniel e, em muito menor escala, para Charles dodgson, também ela seria a verdadeira Alice.
Mary Hilton Badcock, fotografia retirada do livro "A Handbook of the Literature of the Rev. C. L. Dodgson (Lewis Carroll)", de S. H. Williams, e de F. Madan, 1931 |
Por fim, menos conhecida e mais curiosa, é a circunstância de haver uma terceira figura, também do círculo de Charles Dodgson, que reivindicou o estatuto de verdeira Alice. Trata-se de Isa Bowman, actriz de teatro, e companhia relativamente frequente de Charles Dodgson em actividades mundanas. Bowman pertence à categoria de jovens mulheres, na casa dos vinte anos, com quem Charles Dodgson se fazia rodear em festas, e outras saídas. Um comportamento que lhe valeu boatos pouco lisonjeiros, e a censura das irmãs.
A reivindicação de Isa Bowman centra-se no facto de, para além de ter sido uma protegida do autor, ter interpretado pela primeira vez, em teatro, a figura de Alice. Esta sua posição foi estabelecida no livro que publicou em 1899 - "The Story of Lewis Carroll, by the Real Alice in Wonderland."
Julian Ignacy ( Wallery), e Alfred Ellis, Isa Bowman, s/data |
Páginas de "The Story of Lewis Carroll, by the Real Alice in Wonderland", de Isa Bowman, da edicão norte-americana de 1900
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