A atribuição de um nome pessoal a uma rua, a um largo ou até a um beco, geralmente é uma homenagem a alguém que se distinguiu pelos seus feitos, a alguém a quem os factos da História dão relevância.
Mas António Gonçalves Curado não foi um político notável, nem um escritor dotado, nem ainda um professor amado. O grande facto da vida (passe a expressão) de António Gonçalves Curado foi o facto de ter morrido.
Ele foi simplesmente a primeira vítima, de muitas, da estranha aventura que foi a participação portuguesa na frente europeia da primeira guerra mundial.
Um conjunto de ambições, pressupostos e ilusões levaram a que os governantes da primeira república se decidissem pelo envio de um corpo expedicionário para a França e a Bélgica, arregimentado à pressa e verdadeiramente sem logística própria. Esta foi uma ajuda não desejada pelos aliados, que tiveram de o equipar e treinar para a realidade das trincheiras, algo muito diferente dos campos abertos do Ribatejo onde foi feita a instrução militar em Portugal.
Despejados na frente ocidental, os soldados do Corpo Expedicionário Português viveram a brutal natureza dos dois últimos anos dum conflito que se notabilizou por produzir mortos a uma cadência industrial, sem qualquer benefício militar para qualquer das partes. Com a agravante de, a partir de certa altura, terem sido abandonados pelo liderança política portuguesa, que envolvida nas reviravoltas e revoltas da primeira República, interrompe o envio de novas tropas, impedindo a rotações dos contingentes e prolongando os períodos de combate na frente muito para além do sustentável.
Mas António Gonçalves Curado não teve sequer a possibilidade de viver a desesperança do período final do CEP. Morreu logo a 4 de Abril de 1917, na sequência de um bombardeamento alemão que o soterrou nos escombros do abrigo onde se encontrava, na Flandres, Bélgica.
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Autor não identificado,
Sepultura do primeiro soldado português morto
em combate na frente europeia da 1ª guerra mundial,
França, 1917
imagem obtida aqui
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O Imperial War Museum , de Londres, que alberga a colecção de fotografias do Consulado Geral Português, conserva a imagem da sua sepultura provisória em França, onde ficariam os restos mortais até à trasladação para Portugal, em 1929, operação custeada pelo município da sua terra natal, Vila Nova da Barquinha.
António Gonçalves Curado inaugurou a lista enorme de vítimas do sector português da frente ocidental, um esforço militar em que até nas lápides e cruzes as tropas portuguesas estavam dependentes dos seus aliados britânicos (os quais, por diferenças linguísticas alteravam frequentemente os nomes). Com isso ganhou a notoriedade que lhe valeu um lugar na toponímia das cidades portuguesas.
Sem conhecer mais da personalidade e biografia do homem, arrisco-me a dizer que essa foi uma honra que que ele certamente dispensaria, tivesse ele a oportunidade de escolher o seu destino.
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