Em poucos casos, esta dificuldade de separar a personalidade da imagem, terá sido mais evidente que no do artista plástico Andy Warhol. Este, figura de proa do movimento Pop Art, é um exemplo único de opacidade. Todas as suas aparições públicas eram momentos de demonstração. O homem era a sua imagem. O seu rosto era uma máscara de cera inexpressiva, imagem pura, sem aparente significado.
Dificilmente se poderia contornar este exercício, vislumbrar um pouco da intimidade, da sua verdade, através do rosto.
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Richard Avedon, Andy Warhol,
Nova Iorque, 20 de Agosto de 1969
imagem obtida aqui
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Uma das formas de garantir anonimato numa fotografia passa por evitar o rosto. É um recurso comum no manual de artíficios dos fotógrafos. Os amadores que tentam o nu, com modelos relutantes à exposição pública, fazem-no. Os fotógrafos mais ambiciosos, quando tentam a abstração partindo dum corpo individual, também vão por aí.
Curiosamente, um dos olhares fotográficos mais certeiros sobre Andy Warhol serve-se desta abordagem.
Em Agosto de 1969, Richard Avedon fez algumas fotografia com o artista, então recuperado de uma tentativa de assassínio. Pouco mais de um ano antes, Valerie Solanas, uma aspirante a actriz e dramaturga, desequilibrada social e psiquiatricamente, que tentara entrar no círculo próximo de Warhol, e despeitada pela pouca atenção que considerava obter, disparara sobre ele.
Gravemente ferido, fora submetido a uma operação complexa na qual, inclusivamente, o recuperaram de uma paragem cardíaca. Andy warhol sobreviveria, mas do acontecimento ficariam marcas físicas, um torso retalhado por cicatrizes e a necessidade de usar um corpete ortopédico, e marcas psicológicas. Warhol nunca lidara bem com a dor física e o episódio viria a marcá-lo profundamente, acentuando a aversão irracional que tinha por hospitais e médicos. O artista faleceria prematuramente em 1987, na sequência de uma operação dita de rotina à vesicula biliar, que adiara ao ponto de a tornar uma emergência médica.
O tronco sem rosto de Warhol, um não-retrato, que Avedon fotografa no Verão de 1969, acaba por ser uma muito mais fidedigna, e pessoal, imagem dos seus demónios interiores do que os muitos registos da face icónica que oferecia às câmaras
O tronco sem rosto de Warhol, um não-retrato, que Avedon fotografa no Verão de 1969, acaba por ser uma muito mais fidedigna, e pessoal, imagem dos seus demónios interiores do que os muitos registos da face icónica que oferecia às câmaras
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