Por ser desenho animado, nunca pensei muito na verosimilhança da coisa. Porém, há dias apercebi-me que às vezes a realidade é tão parva quanto um cartoon.
As aves têm o hábito, e a necessidade, de engolir pedras para as ajudar na digestão. Muitas aves comem quase tudo o que mexe e não mexe, o que conseguem enfiar pelo bico e o que se lhes seja de algum proveito alimentar (quem lidou com galinhas em miúdo sabe que, se for para comer, conseguem fazer espantosas habilidades, incluindo caçar roedores).
Agora a avestruz... a avestruz é mesmo um caso portentoso. No que diz respeito a engolir, envergonha o mais talentoso dos faquires e, ao contrário destes, vigora o princípio do "Engoliu, está engolido". O que vai pela goela abaixo não volta a subir.
Frederick William Bond,
O conteúdo do estômago de uma avestruz,
Londres, cerca de 1930
imagem obtida aqui
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Cerca de 1930, Frederick William Bond fotografou o estranho conteúdo da barriga de uma avestruz que morrera sossegadamente no Zoo de Londres. Este incluía, entre outras coisas, um lenço de renda, um lenço simples, uma luva com botões, uma corda, sete moedas, ferragens variadas, ganchos, agrafos, parafusos e um prego de quatro polegadas.
O conteúdo do estômago da avestruz terá sido particularmente indigesto para Bond, um pacato contabilista, tesoureiro da Zoological Society of London. Enquanto fotógrafo era um amador pouco dado a fugir das convenções, registava as novidades zoológicas de Londres segundo padrões algo conservadores, um pouco a dar para o "fofinho". Mas aqui, ao invés de uma simpática natureza-morta, a coisa aproximou-se estranhamente das assemblages dadaístas ou construtivistas, que as vanguardas artística contemporâneas desta fotografia apresentavam com escândalo.
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