Lewis Hine,
Salvin Nocito de cinco anos a carregar bagas
Nova Jérsia, 28 de Setembro de 1910
imagem obtida aqui
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Apesar da situação norte americana não ser uma excepção a nível global no período em causa, de não haver qualquer impedimento legal e de a lógica económica de então encarar com naturalidade a exploração de toda a mão-de-obra disponível ( as crianças, pelo seu tamanho e baixo custo laboral, adequavam-se muito bem a determinados trabalhos, fosse em túneis de minas, fosse na indústria), o facto é que desponta a consciência de que socialmente era indefensável a exclusão total da escolaridade e do direito à infância. Por um lado, os sectores intelectuais e políticos mais progressivos organizam-se no sentido de expor e limitar o problema; por outro lado, os empregadores de crianças, não querendo abdicar do seu uso, têm clara consciência da inaceitabilidade crescente da situação e organizam-se para esconder e disfarçar o óbvio.
Em 1904 é criado o National Child Labor Committee, que rapidamente ganha apoios entre a classe intelectual e política, incluindo o do ex-presidente Grover Cleveland. Três anos depois, esta organização é reconhecida oficialmente pelo congresso norte americano e, embora sem poderes oficiais, acabará por ser decisiva na alteração da situação do trabalho infantil nos Estados Unidos.
Em 1908, visando registar e denunciar o trabalho infantil, o National Child Labor Committee contratou como fotógrafo Lewis Hine, um professor secundário de sociologia na progressista The Ethical Culture School, uma escola privada de Nova Iorque.
Como docente, Hine destacara-se por fazer um uso pedagógico da fotografia, levando as suas classes para Ellis Island a fim de registar as vagas de emigrantes que faziam a sua entrada nos Estados Unidos através do porto nova-iorquino. Contava igualmente no currículo o facto de, durante dois anos (desde 1906), ter fotografado aspectos da vida das comunidades de Pittsburgh ligadas à indústria do aço, colaborando no estudo sociológico designado por Pittsburg Survey, financiado pela Russell Sage Foundation.
Confrontado com a vontade dos empregadores de esconder uma realidade embaraçosa, Hine raras vezes teve autorização para efectuar livremente o seu trabalho. Ao contrário do que seria comum hoje, perante as proibições a sua estratégia não podia ser a de fazer uso de uma câmara oculta. Impediam-no o volume do equipamento que usava à época, as fracas condições de luz no interior de fábricas e minas e, facto não negligenciável, a sua abordagem ao acto fotográfico. As imagens de Hine não se orientavam no sentido da captura de um instantâneo, eram antes uma construção de pose e cena. Em certa medida próximos dos retratados de August Sander, os sujeitos das fotografias de Lewis Hine não são surpreendidos pela câmara, são antes solicitados deliberadamente a confrontá-la. Dito isto, qual era a então a sua abordagem para contornar a impossibilidade de actuar livremente? Muitas vezes não conseguia simplesmente entrar nos locais de trabalho do trabalho infantil e restava-lhe fotografar no exterior, nos portões das fiações e das siderurgias, nos acessos das minas.
Lewis Hine,
embaladores na conserveira Seacoast Canning Co
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Mas outras vezes conseguia, com os seus negativos de vidro, com o seu magnésio (que era usado para produzir os clarões necessários à iluminação das cenas) e com a demais parafernália, entrar nos redutos industriais. Para tal apresentava-se como um inspector de empresas seguradoras ou como um fotógrafo de postais, apelava às obrigações de capatazes e proprietários, ou à sua vaidade. Aqueles que, de outro modo, o correriam com impropérios para fora das instalações, tornavam-se seus colaboradores, colocavam a criança “que estava apenas a visitar familiares” a trabalhar junto da máquina para dar a devida escala à cena. Hine, ardiloso, aproveitava-se do seu desejo de querer ficar bem na figura.
Lewis Hine,
Rapazes na fiação Bibb,
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Lewis Hine,
Enroladores de charutos na Tabaqueira Englahardt & Co,
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