domingo, 18 de dezembro de 2011

Com as vacas

Depois de dois textos sobre dirigíveis ( recentes, que há um outro mais antigo), sobre a seriedade do seu papel bélico e do optimismo exagerado quanto ao seu futuro, apresento agora uma imagem de contraponto, mais divertida.

Autor não identificado, R101 com vacas,
cerca de 1929, Grã-Bretanha
imagem obtida aqui

A fotografia é britânica e apresenta o R101, uma grande aposta do Reino Unido, em cenário bucólico pairando e sombreando vacas que pastam. Desconheço as intenções do fotógrafo (aliás, desconheço o fotógrafo) mas aparece aqui uma das formas mais comuns de criar humor, colocar em conjunto duas coisas que se contradigam e fazê-lo de forma a que pareça natural.
A imagética mais corrente da época faz associar os dirigíveis a coisas que os liguem ao progresso. Apresenta-os em gigantescos hangares, eles próprios exemplos notáveis dos progressos da engenharia, regista-os a flutuar sobre as notáveis e novas cidades de arranha-céus. Os ângulos são oblíquos, sugerem movimento. Nada disso aqui acontece. A coisa paira sobre vacas que, como é natural nestes bichos, pastam indiferentes e pachorrentas. A torre de ancoragem não é um estiloso espigão Art Deco, como o que pontua o edifício Empire State de Nova iorque, assemelha-se antes a um rústico depósito de água.  A imagem capta o engenho num ponto de vista perpendicular ao seu comprimento, o que acentua o carácter estático da cena. Este dirigível parece dizer que o seu destino não é ligar os pontos mais distantes do império britânico, que o seu futuro não é levar a lado algum. É antes ficar ali. A pairar, com as vacas.

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