Tony Vaccaro, White Death: Photo Requiem for a dead soldier, Private Henry I. Tannenbaum, Bélgica, 1945
Em 19 de Junho de 1997, Tony Vaccaro retornou a Ottré, na Bélgica, e tentou mostrar a Sam Tannenbaum o local exacto onde, em 12 de Janeiro de 1945, fotografara o corpo do seu pai, inerte e semi-coberto pela neve, naquela que é uma das mais significativas imagens da segunda guerra mundial.
Nesse inverno, Vaccaro era um cabo do exército americano que assumira uma guerra extra. Além de executar as tarefas esperadas de um GI- sobreviver, cumprir as ordens, disparar - incumbira-se pessoalmente de captar a matança e a crueza do conflito. Fazia-o a título pessoal, com câmaras modestas, inicialmente uma Argus C3. No final da guerra, transportava permanentemente três câmaras, reguladas com três distâncias focais diferentes, para poder fotografar rapidamente sem perder tempo a operar as lentes, evitando riscos desnecessários. Arranjava os materiais como podia, frequentemente em ruínas de lojas de equipamento fotográfico das cidades por onde passava, e processava os rolos improvisadamente, se necessário usando capacetes como tinas de revelação em noites sem luar. Nessas condições realizou aquele que é um dos registos mais notáveis da segunda guerra mundial, um rol de imagens feitas com o olhar do combatente regular, de alguém que não podia escolher os seus momentos.
No final de 1944 e início de 1945, as tropas aliadas foram surpreendidas pela inesperada contra-ofensiva alemã na zona das Ardenas. Durante cerca de dois meses, tropas Americanas resistiram cercadas nessa zona da Bélgica, aos alemães e a um tempo impiedoso que os enterrava em gelo e neve (e isto Ironicamente no preciso período em que Bing Crosby voltava a melar nas rádio com o adocicado “White Cristhmas”). Em 11 de Janeiro um contingente americano é surpreendido numa emboscada e, com a excepção do sargento Harry Shoemaker, são todos feridos e mortos. Shoemaker sobreviverá fazendo-se passar por morto e, mais tarde, ao retornar relata a gravidade do acontecido. Após a emboscada, as tropas SS acercaram-se dos feridos e abateram-nos com tiros de pistola à queima-roupa. Tony Vaccaro é o sentinela que recebe Shoemaker à chegada ao aquartelamento, e estará entre os primeiros americanos que recuperaram a área do massacre. Aí, repara que o corpo de Tannenbaum se destaca dos demais. Morto de imediato, no inicio da emboscada, não terá tido a atenção dos alemães e jaz direito e composto, semicoberto pela neve. Os demais cadáveres indiciam a contorção dos feridos, e o abate das SS, em áreas muito mais remexidas. A aparente serenidade e compostura de Tennenbaum levam Vaccaro a fotografar a cena, segundo ele, para captar essa visão de uma morte bela. Queria fazer um requiem em forma de fotografia e mais tarde intitulará a fotografia como "White Death: Photo Requiem for a dead soldier, Private Henry I. Tannenbaum.".
Em 1997, ao retornar ao local, tem dificuldade em situar o lugar preciso onde encontrara o pai de Sam Tannenbaum. As características do terreno haviam sido alteradas significativamente. Onde antes houvera campo agrícola aberto crescia uma floresta. A custo descobriu a área aproximada onde haviam estado os resto mortais, e procurou a ajuda do dono actual do terreno, tentando aumentar a precisão dessa identificação. Explicou-lhe que o porquê da sua dificuldade residia sobretudo na floresta que agora ocupava a área. O belga explicou-lhe então que não se tratava, em rigor, de uma floresta. A sua exploração era uma plantação de árvores de Natal, que exportava para Portugal e Espanha. Surpreendido, Vaccaro questionou o belga. Perguntou-lhe se percebia a mórbida ironia do que acabava de descrever. O terreno que agora produzia árvores de natal, tinha sido o lugar da morte do soldado Tannenbaum, poucos dias após o miserável natal de 1944. E Tannenbaum quer dizer precisamente, em alemão, árvore de natal.
__________________________________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário