A exposição longa (mas não demasiado longa) que a penumbra nocturna impõe transforma a multidão transeunte numa massa espectral a que as luzes natalícias acrescentam um toque de estranheza.
Horácio Novais, Rua Augusta, Lisboa,sem data
imagem obtida aqui
Gosto bastante da imagem acima, que considero particularmente feliz na relação entre o tempo de exposição e velocidade da multidão. Gosto igualmente por ser um exemplo interessante de como, por vezes, os elementos presentes na imagem põe em evidência os ausentes. Aqui, é claro que o fotógrafo cria um acontecimento pela sua simples presença. Posicionado no meio da corrente pedonal, em posição elevada, possivelmente como um obstáculo, chama a atenção. Força a paragem de alguns dos passantes que se retêm, por momentos, para ver quem os fotografa. Passa-se isto em Lisboa, em Portugal, um lugar e um tempo que não se gostava de ser fotografado, conforme dizia Gerard Castello Lopes numa entrevista.
As figuras que se retiveram, ou que vieram às varandas observar, e que olham para o fotografo põem igualmente em destaque a natureza voyeuristíca da Fotografia. Em termos da imagem vemo-los como olhando para nós, que olhamos para eles. O olhar é exposto como uma intrusão, uma abordagem nem sempre solicitada, ou tolerada, ao outro.
Horácio Novais, Rua Augusta, pormenor, Lisboa,sem data
imagem obtida aqui
Horácio Novais, Rua Augusta, pormenor, Lisboa,sem data
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