É bastante comum, e por motivos óbvios, a referência à Camera Obscura (câmara escura) nas textos de história da Fotografia. Não tão comum é a referência a um outro dispositivo óptico, a Camera Lucida (câmara luminosa, ou câmara clara), que com a anterior partilhava o objectivo de fornecer aos amadores do desenho um auxílio precioso, nos tempos anterior à invenção de Talbot, Niépce e Daguerre.
Camera Lucida, c. 1820, Museum of History of Science, Oxford, Inglaterra
A relativa menorização deste engenho, inventado por William Hyde Wollaston e, mais tarde, aperfeiçoado por Giovanni Battista Amici, tem a ver com facto de, ao contrário da Camera obscura, não ser o arquétipo das câmara fotográficas.
No entanto, deve-se a ele o instante desencadeador duma das vias que levaram ao aparecimento da Fotografia ( ver “ Os desenhos de FoxTalbot”). A frustração com os resultados do seu uso foi para Fox Talbot um momento equivalente à da alegada queda da maçã na cabeça de Newton.
John Jackson, Retrato de William Hyde Wollaston, anterior a 1823
Outro aspecto interessante, era o de que a Camera Lucida, para além de um uso ocioso por parte da burguesia culta do século dezanove, se prestava a uma utilização corrente, por parte dos investigadores científicos da época, como instrumento de registo de formas, cumprindo um papel equivalente ao da máquina fotográfica na actualidade. Encontram-se referências aos seus préstimos em obras de referência, como “A Origem das Espécies” de Charles Darwin.
Por último, convém ainda referir que, se por um lado, este aparelho não é o antepassado formal das câmaras fotográficas, por outro, não se pode dizer que se encontra totalmente ausente delas. Os elementos base da Camera Lucida, um espelho inclinado a 45º e um prisma transparente, são exactamente os constituintes que permitem, nas câmaras SLR ( Single Lens Reflex) actuais, transmitir ao visor traseiro a imagem irá ser registada na película ou pelo sensor digital.
Diagrama da Camera Lucida, obtido no livro "Elements of Natural Philosophy", de W. H. C. Bartlett, 1852
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