Há cerca de vinte anos, à medida que a idade a ia atropelando aos poucos, a agora nonagenária americana começou a construir pequenos cosmos que recolhia em passeios junto a sua casa. Remete ela a origem desta abordagem para a sua infância nos matos do Brasil, em que nas férias escolares calcorreava incessantemente o campo, sempre com atenção ao que se lhe aparecia pela frente ou por debaixo dos pés. E ali havia que ter cuidado onde se punha o pé, há coisas que não se quer pisar, ou que simplesmente não se quer deixar de ver.
Essa atenção ao mundo das pequenas coisas e o processo que usa (uma adaptação do cliché verre) unem-se numa simbiose funcional. Pequenos grãos, asas de insecto, folhas, secções de vegetais, tudo ensanduichado entre duas pequenas chapas de vidro, transfiguram-se pela ampliação e pela acção da luz. O insignificante e o banal são intensificados e transformados. Há algo de revelação, de epifânia, nos seus melhores trabalhos.
Foskett associa esta alteração ontológica ao processo científico, ao seu questionar metódico e à introdução de um novo olhar que transforma o insignificante na explicação de uma parte do universo.
Nem sempre as suas imagem passam por uma grande ampliação, por uma abordagem declaradamente microscópica. Aliás, em nada o trabalho de Foskett se liga com o comum universo da Fotografia macro que enche revistas e sites de aficionados da Fotografia.
As suas fotografias não explicam. Não são cartesianas, resolvendo o todo pela somas das suas pequenas partes. A sua aproximação à ciência é metafórica e poética.
Maggie Foskett, Ninho perturbado, 1996
imagem obtida aqui
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Em "Ninho perturbado", de 1996, posso pressentir a perturbação do Mundo, a dureza da Existência. Mas não me peçam para explicar porquê.
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