segunda-feira, 26 de maio de 2014

Brandos costumes [11]

Na longa sessão de Instabilidade política que Portugal viveu nos últimos anos do século dezanove e nas primeiras décadas do século vinte, naquilo que alguns descrevem como uma contínua e não declarada guerra civil de baixa intensidade, o episódio revoltoso de 5 a 8 de Dezembro de 1917 poderia à partida ser tido como apenas mais um.
Unidades do exército revoltosas lideradas por um oficial de artilharia, Sidónio Pais, e apoiadas por um reconhecido líder da revolução república de 1910, Machado Santos, posicionaram-se e combateram militares afectos ao governo de Afonso Costa, nas zonas de Campolide e do Parque Eduardo VII, em Lisboa.
Num primeiro momento, a relação de forças parecia favorável aos segundos, mas a impopularidade dum governo debilitado pela dispendiosa e mortal participação na primeira guerra mundial e pela escassez de bens alimentares (vivera-se, meses antes, a sangrenta "Revolta da batata"), permitiu a estranha aliança de conservadores e movimentos operários, que fez afluir imensos civis à luta, e o amotinamento e adesão à revolta de forças que aguardavam o embarque para a frente europeia.

E, como em todas as revoltas em que civis tinham participação significativa, o saldo final acabaria por ser sanguinário. Quando Afonso Costa se rendeu, o saldo de mortos ultrapassara a barreira da centena, com um elevado número de feridos a completar o cenário.

Joshua Benoliel, o retratista maior desse período, capturou alguns momentos dessa chamada "Revolução Sidonista".


Joshua Benoliel,
Disparos de artilharia
durante a revolta de Sidónio Pais,
Lisboa, Portugal, Dezembro de 1917
imagem obtida aqui


Joshua Benoliel,
Soldados durante a revolta de Sidónio Pais,
Lisboa, Portugal, Dezembro de 1917
imagem obtida aqui

Joshua Benoliel,
O revolucionário João Rocha
na revolução de Sidónio Pais,
Lisboa, Portugal, Dezembro de 1917
imagem obtida aqui



Mas o episódio revoltoso de 5 a 8 de Dezembro de 1917 não viria a ser exactamente apenas mais um.
Com o sucesso da revolta, Sidónio Pais assumiria o Governo e acabaria por incutir no seu consulado um cunho autoritário de natureza pessoal, estimulando o culto da sua personalidade, no que acabaria por ser uma espécie de ensaio do futuro Estado Novo e da devoção institucional à figura do líder que seria António de Oliveira Salazar.

Sidónio Pais não perdurou e não teve sorte. Pouco mais de um ano após a sua "revolução", seria assassinado a tiro por um militante republicano, José Júlio da Costa. Mas a sua marca ficaria, e o Estado Novo recuperá-lo-ia, transladando o seu corpo para o Panteão Nacional em 1966, local destinado aos defuntos heróis da Pátria.

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