A pequena musa que motivou "Alice no país das Maravilhas" de Charles Dodgson (Lewis Carroll) e que foi modelo de algumas suas fotografias (ver A verdadeira Alice, Observe-se agora esta, Observe-se) viria a cruzar-se, em 1872, com outro dos grandes nomes da era pioneira da fotografia – Júlia Margaret Cameron.
Charles Dodgson privou com o grupo de artistas da irmandade Pré-rafaelita, núcleo da elite artística inglesa que combinava de forma muito peculiar referências clássicas, revivalismo medieval e imaginário céltico. Porém, a sua Fotografia nunca vestiu verdadeiramente as roupagens pré-rafaelitas. O papel de ser, de alguma maneira, a representante fotográfica dessa corrente estilística coube a Júlia Cameron.
Alice Liddell foi por ela fotografada em duas representações. Numa, intitulada Aletheia, aparece personificando a Verdade.
Julia Margaret Cameron, Aletheia, 1872
Na outra, intitulada Pomona, representa a divindade romana das frutas, dos jardins e dos pomares. Deusa inicialmente imune ao Amor, resiste às investidas das divindades masculinas, mas acaba por se apaixonar por Vertumno, Deus das Estações e do crescimento, que a convence, após sucessivas e dissimuladas aproximações, através do poder da argumentação.
Julia Margaret Cameron, Aletheia, 1872
As duas fotografias demonstram de forma muito clara a estética Pré-rafaelita, com o seu pendor estilizado, o gosto pelo vegetalismo e o seu carácter algo recatado e sereno. Mas, olhando-se para Pomona, o que se parece destacar é olhar duro, a expressão e postura rígidas que demonstram uma aparente incredulidade relativamente ao seu papel de deusa das frutas. Características visíveis treze anos antes, na fotografia de Charles Dodgson( ver Observe-se agora esta), em que Alice Lidell , então uma criança de personalidade forte, enfrenta decidida a câmara, vestida de mendiga e com uma postura de braços muito semelhante.
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