domingo, 6 de janeiro de 2019

O olhar incómodo de Gérald Bloncourt

Falecido no passado 29 de Outubro, Gérald Bloncourt é uma das várias figuras que, não sendo nacionais, são incontornáveis quando se olha para a história da fotografia portuguesa. Num país em que, por razões várias, das limitações económicas às de liberdade de expressão, só mesmo muito tarde a prática fotográfica teve uma expansão minimamente comparável à de outras geografias paradigmáticas como os Estados-Unidos ou a França, o olhar dos outros acaba por ter uma particular importância.

Ora, o olhar de Gérald Bloncourt não foi exactamente um dos mais cómodos. Frequentemente recordado como o fotógrafo da emigração portuguesa em terras francesas dos anos sessenta, as suas imagens dos bidonvilles, os degradantes bairros de lata dos subúrbios, revelavam um quotidiano cuja exposição desagradava e embaraçava autoridades e sensibilidades publicas, quer cá, quer lá.


Mas Gérald Bloncourt foi mais do que o documentarista dos bidonvilles. Ele, que não era estranho à miséria, contra a qual lutara no seu Haiti natal, rumou ao país que alimentava aquilo que ele considerava uma forma de escravatura moderna, e documentou também a pobreza rural e urbana portuguesa que dava às dificuldades das barracas francês alguma relatividade. A fuga a salto, pelos Pirinéus, que ele também fotografou, oferecia apesar de tudo uns tons de esperança.



Gérald Bloncourt,
Crianças transportando água em bairro da lata,
Lisboa, Portugal,
1966
imagem obtida aqui

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