Robert Yarnall Richie, Mulher a realizar cablagens,
Chrysler Corporation, EUA, 1944
imagem obtida aqui
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Os Estados Unidos ao entrarem em guerra em 1941, como outros países envolvidos no conflito mundial de então, tiveram de estabelecer uma política de Informação e imagem.
Em junho do ano seguinte foi criado o Office of War Information (OWI), uma agência federal que tinha por objectivo produzir e coordenar a informação governamental relativa às frentes de combate e ao esforço de guerra no próprio país. Esta não foi exactamente uma instituição que nasceu do nada, na medida em herdou a muito eficaz e oleada máquina de imagem do governo Roosevelt, nomeadamente a secção de informação da Farm Security Administration (FSA), que fora muito importante na obtenção de uma opinião pública favorável aos esforços de combate à Grande Depressão.
Uma das áreas em que o OWI teve de intervir de forma imediata foi na de incentivar a participação feminina na produção industrial. Ao contrário do que por vezes aparece descrito, a participação de mulheres em trabalhos fabris não foi uma novidade trazida pelas duas guerras mundiais. Concretamente no caso americano, o operariado feminino existia desde o advento desse tipo de produção e era constituído maioritariamente por membros de comunidades étnicas minoritárias e por emigrantes. O que as guerras mundiais trouxeram de novo foi um foco positivo sobre uma situação, que, por norma, desagradava à sociedade americana. As imagens de mulheres operárias de Lewis Hine, por exemplo, foram feitas sob um ponto de vista de denúncia da exploração laboral e da pobreza.
Lewis Hine, Caixas de cartão,
E.U.A., 1906-1920
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Tal ponto de vista não podia ser obviamente partilhado pela abordagem do OWI, mesmo que a acção da FSA ( que, como vimos, fora absorvida na nova organização) o tenha seguido por motivos políticos. Como ficou muito claro em directrizes internas da agência, num país em guerra não se podia propagar imagens de gente abatida por vicissitudes económicas. De vítimas, portanto.
Dorothea Lange (fotógrafa da FSA), Mãe migrante,
E.U.A.,1936
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O objectivo do OWI era aumentar o moral das populações e das tropas e, por isso, a política de imagem teria de ser radicalmente diferente. Os fotógrafos da agência transformaram o trabalho industrial feminino em algo patriótico, positivo (ver As operárias da propaganda). As operárias americanas eram as heroínas da frente doméstica. As suas imagens eram muito mais próximas do glamour da fotografia de moda, do que da estética documentarista da FSA ou da motivação sociológica de Hine.
Embora em guerra, os Estados Unidos não possuíam um aparelho totalitário de controle de informação e de censura à semelhança dos seus inimigos (Alemanha, Japão e Itália) e de alguns dos seus aliados (União Soviética, por exemplo). Assim, a acção do OWI na comunicação social era, sobretudo, de coordenação e de definição de linha editorial. A aceitação deste papel tutelar não era polémica, e funcionava muito mais numa base voluntária dos grupos de media, do que em resultado do enquadramento legal (que existia no quadro do estado de guerra).
A estética do OWI foi mimetizada por outros agentes que dele não dependiam directamente, mas que partilhavam os seus objectivos.
Robert Yarnall Richie, um desses casos, foi um fotógrafo comercial independente que tinha uma boa carteira de clientes nas grandes corporações americanas.
A abordagem proposta pelo OWI caiu particularmente bem neste estrato da economia americana. A valorização do operariado feminino era um bom negócio.
Estas empresas, as principais beneficiárias das encomendas militares, resolviam com ela vários problemas de uma assentada. Por um lado a falta de mão-de-obra, resultante do recrutamento militar dos homens em idade combatente, era superada. Por outro, o novo operariado era mais barato, os salários pagos a mulheres eram muito inferiores ao dos homens nas mesmas funções. E por fim, tudo isto era feito sem o ónus de uma má imagem pública. Pelo contrário, estas empresas, à semelhança das operárias, eram heroínas na batalha da produção.
Recusado pelo serviço militar, por motivos de idade, Robert Yarnall Richie participou nesta "guerra" de significados, servindo os seus clientes particulares e partilhando a iconografia de homens do OWI (instituição com a qual chegou aliás a colaborar por algum tempo), como Alfred Palmer e de Howard Hollem. Apresentou uma América fabril que aparece higiénica como um laboratório, dotada de diligentes operárias, fortes mas femininas, maquilhadas e penteadas, de roupa impecável, sedutoras e invejáveis. Fê-lo com qualidade a preto-e-branco, mas imagens a cor revelaram-se mais adequadas a este propósito de transformar as operárias numa espécie de pin-ups castas.
Robert Yarnall Richie,
Operária da Boeing a trabalhar,
E.U.A., Abril de 1944
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Robert Yarnall Richie,
Operária da Boing a trabalhar numa secção de asa,
E.U.A., Abril de 1944
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Robert Yarnall Richie, da série "Miss Mission",
E.U.A., Agosto 1944
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Robert Yarnall Richie, da série "Miss Mission",
E.U.A., Agosto 1944
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Robert Yarnall Richie, da série "Miss Mission",
E.U.A., Agosto 1944
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Robert Yarnall Richie, da série "Miss Mission",
E.U.A., Agosto 1944
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