Muitas vezes, beneméritos, como Gianni Vattimo, fizeram o favor de intermediar e facilitar o acesso ao difícil Heidegger. Um belíssimo texto do italiano, em tempos traduzido para Português numa edição da Relógio D’Água, apresentava-nos dois conceitos de Heidegger, traduzidos para “Terra” e “Mundo”. Terra é a realidade exterior ao Homem, que lhe é pré-existente e à qual não pode aceder na totalidade. Mundo será a abertura pela qual o ser humano se relaciona com essa realidade, limitado pela História, pela Biologia e pela Linguagem.Por vezes, os grandes autores, os grandes poetas, provocam um estiramento dessa abertura, alargando os horizontes cognitivos e perceptivos da humanidade. Cria-se mundo nesses momentos de revelação.
Esta maravilhosa e poética concepção adequa-se perfeitamente ao fotógrafo suiço-americano Robert Frank, recentemente falecido. A Fotografia de Frank, dura, áspera, verdadeira, não teve sucesso fácil e rápido. “The americans“, fotolivro e projecto fundador, totalmente fora do cânone, foi acolhido com frieza ou, mais frequentemente, com desprezo. Mas a Fotografia de Robert Frank acabaria por se afirmar como profundamente marcante, e muita da mais interessante fotografia contemporânea radica nela.
Chamar Frank para o panteão dos grandes poetas que alargam a experiência humana não é um exercício fútil. O escritor Jack Kerouac, que escreveu o texto introdutório de “The americans“, teve logo aí essa intuição : “Robert Frank, suíço, discreto, simpático, com aquela pequena câmara que ergue e dispara, e que com uma mão extraiu para a película um triste poema da América , toma o seu lugar entre os poetas trágicos do mundo”.
Robert Frank,
Paris,
França,1949
imagem obtida aqui
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