Na dispersão que lhe é característica, tudo lhe interessa, e neste tudo algumas coisas em particular o cativam. As esquecidas turbulência e violência da primeira metade do século vinte português, são uma delas.
Navegando pelo motor de pesquisa do Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, um pouco ao calhas, deparou-se-lhe um estranha e macabra imagem desta temática. Da ficha disponibilizada, sabe-se ser de 1908, da autoria de António Novais (ou Novaes, grafia mais provável na data em questão).
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António Novais,
Cadáveres amontoados na morgue,
Lisboa, Portugal, 1908
imagem obtida aqui
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Sem mais dados que esclareçam os factos que estão na sua origem, arrisca-se a seguinte contextualização. Os cadáveres amontoados da imagem, pelo seu número, poderão ser as vítimas da contestação aos resultados das eleições de Abril desse ano, realizadas com vista à obtenção dum governo de "Acalmação" que serenasse o país após o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe-herdeiro, D. Luís Filipe, em Fevereiro desse ano.
Os mesmos factos que estão por detrás da espantosa fotografia de Joshua benoliel, com sinais de sangue numa parede.
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Joshua Benoliel,
Sinais feitos com sangue pela população numa parede,
Lisboa, Portugal, 1908
imagem obtida aqui
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Duas imagens dum país de costumes não particularmente brandos, enfim.
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